Módulo 2 | A Andragogia na Prática Docente

Aula 2.2Características do aprendente em educação de adultos, etapas, organização da aprendizagem do adulto e princípios da Andragogia

A discussão que acabou de realizar com os colegas traduz princípios e procedimentos da Andragogia, que permitem determinar uma metodologia apropriada para a aprendizagem integral, diversificando as ofertas educativas dirigidas aos adultos.

Esta metodologia a aplicar na Educação de Adultos é fundamentalmente influenciada pela compreensão e operacionalização das perspectivas da Andragogia, sintetizadas em:

  1. A aprendizagem deve ser baseada em problemas que os adultos vivenciam diariamente;
  2. A aprendizagem deve ser baseada em experiências que os adultos tenham adquirido ao longo da vida;
  3. A aprendizagem deve ser significativa para o adulto, de modo que tenha uma aplicação imediata;
  4. O adulto deve ter a liberdade de analisar a experiência em actividades concretas, isto é, o que ele aprende deve ter relação com a vida e a sua utilidade prática.
  5. As metas e a pesquisa devem ser fixadas e executadas pelo adulto, o que significa que o ensino deve estar centrado no aprendente, nas suas motivações e necessidades, para além da mobilização da actividade do mesmo. Trata-se de pensar que a aprendizagem deve ser mais na base da construção do sujeito que aprende e não na mera transmissão de conhecimentos.
  6. O adulto deve receber o “feedback” sobre o seu progresso em relação à aprendizagem. E esta avaliação não somente deve ser por agentes externos, como também pelo próprio aprendente, na lógica de auto-avaliação.

2.2.1 Características do aprendente adulto

A perspectiva da Andragogia reflectida nos pontos acima, tem como fundamento a caracterização do aprendente na educação de adultos, ou seja, do adulto.

Por assim dizer, ser adulto significa que o Homem atingiu a maturidade da personalidade pretendendo indicar o sujeito responsável que possui características pessoais de domínio de si mesmo, seriedade e juízo.

Ou seja, o indivíduo na fase adulta é considerado pelos demais como alguém com capacidade para fazer escolhas, tomar decisões e definir seus projectos de vida. Etimologicamente, considera-se que o termo adulto vem do verbo latino adolescere, que significa crescer e é a forma do particípio passado adultum, significando aquele que terminou de crescer ou de desenvolver-se, isto é, o crescido. E sob o ponto de vista jurídico a mesma diz que “ser adulto significa ter atingido a maioridade, passando o indivíduo a viver e a actuar no meio social por sua própria responsabilidade, sem a tutela de outros”. Muitas vezes são as circunstâncias políticas e sociais que decidem a entrada dos indivíduos na sociedade adulta e, consequentemente, o uso de direitos e responsabilidades.

Conforme o indivíduo entra na idade adulta, as mudanças vão ocorrendo: curiosidade universal, a da infância, atenua-se ...; a impressão de possibilidades infinitas, a da adolescência, apaga-se ...; a inteligência que culmina em valor absoluto entre 13 e 17 anos, decresce e compensa suas perdas por uma maior capacidade de organização dos conhecimentos adquiridos; os papéis sociais marcam a personalidade e, sob certos aspectos, deformam-na, correndo até o risco de abafá-la ...; as motivações (necessidades, sentimentos, aspirações, expectativas) mudam ...; a plasticidade do Eu, seus poderes de adaptação quase ilimitados, diminuem e, em seu lugar, instala-se um certo equilíbrio defensivo; as resistências a qualquer mudança fazem-se cada vez mais fortes.

Ainda na tentativa de identificar o adulto, quanto as especificidades, este “Teve e tem responsabilidades, dentro do trabalho e em relação à família.

Possui a noção de um fim a atingir, que é mais clara nele do que na criança. Sabe que o seu futuro depende de si, tem projectos, objectivos. Sente vivamente o conceito de conseguimento, particularmente social e socioeconômico. Em suma, a personalidade moldou-se no decurso de toda a sua existência e ele adquiriu um certo saber-existir, resultante de um longo condicionamento e, portanto, muito estável.

O adulto, diferentemente da criança, é independente, aprende com os próprios erros, traz consigo um acúmulo de experiências de vida, faz escolhas, analisa as informações recebidas. Enfrenta a vida de forma autônoma. Mas na escola teme o fracasso, procura entender suas dificuldades mas faz questão de mostrar suas habilidades. Traz na bagagem experiência de vida, expectativas e possibilidades que interferem no processo de aprendizagem. Aprende aquilo que interessa e não quer ser tratado como criança.

Acredita-se que pela primeira vez na vida ele é inteiramente responsável por suas próprias decisões e a insegurança pode fazer parte desse seu momento, pois as escolhas surgem em sua vida e ele tem que decidir o que é melhor para o seu futuro. Escolher um cônjuge e aprender a conviver com ele, iniciar sua própria família, educar filhos, assumir a responsabilidade de um lar, não são tarefas simples.

O adulto vivencia em suas próprias situações de vida, características que lhe são particulares. A personalidade e a experiência de vida do adulto influenciam sua participação na educação de adultos. O adulto é aquele que tem maturidade, experiência de vida e, portanto, constrói estratégias para se livrar de situações inesperadas. Ele traz consigo conhecimentos que independem de ser ou não alfabetizados. Portanto, não podem ser minimizados quanto às suas capacidades intelectuais.

Os alunos, adultos, são marcados por carências socioeconômicas, afectivas e culturais. Para alguns que não são alfabetizados, estar na escola e alfabetizar-se são garantias para manter-se no emprego e integrar-se socialmente. Outros são ex-alunos do ensino regular que tiveram experiências negativas e procuram a educação de adultos em busca de melhorar as condições de vida.

2.2.2. Etapas na organização da aprendizagem de adultos

A Andragogia é um campo de aprendizagem que coloca o aprendente em acção, havendo, por isso, a necessidade de aplicação de métodos participativos, que permitam um maior envolvimento do adulto na construção do seu saber. Na condução da aula com adultos, seguem-se sete etapas andragógicas:

O diálogo constitui uma forma de levar o adulto a participar e a construir o seu próprio conhecimento, ao responder às perguntas do educador de modo activo. A aprendizagem deriva, por conseguinte, da construção activa do sujeito sobre o mundo e constitui-se como motor de transformação e de desenvolvimento dos indivíduos.

O clima de aprendizagem deve caracterizar-se pela confiança, respeito e colaboração, sendo o diálogo a pedra basilar do processo de aprendizagem. O professor, nos dias de hoje, exerce a função de mediador pedagógico junto aos adultos. Ocorre uma troca de ideias e experiências de ambos os lados, onde o professor, em muitos casos, se coloca na posição do adulto, aprendendo com a experiência deste.

A valorização das experiências faz a diferença na maneira como os programas de educação de adultos são organizados e operacionalizados, no modo como os professores de adultos são treinados; e na maneira como os adultos recebem a ajuda para aprender.

Quanto ao ensino baseado na resolução de problemas concretos, tem-se por exemplo o caso de, “na aula de Matemática, com o tema “Área do rectângulo”, o professor pode colocar a seguinte pergunta: Calcule a área da sua capoeira. Esta tarefa permite ao aprendente dialogar com o educador, usando experiências da sua vivência.

Na base da Andragogia, é necessário que o formando tenha a visão de Erikson, especialmente na abordagem do desenvolvimento ao longo do ciclo da vida. Segundo o autor, a fase adulta inicia no estágio de intimidade x isolamento (jovem adulto), em diante. Nesse estágio, nota-se o interesse pela profissão, pela construção de relações profundas e duradouras, podendo vivenciar momentos de grande intimidade e entrega afectiva. Caso ocorra uma decepção, a tendência será o isolamento temporário ou duradouro. E no estágio seguinte, designado produtividade x estagnação (meia idade), no adulto, pode aparecer uma dedicação à sociedade à sua volta e realização de valiosas contribuições, ou grande preocupação com o conforto físico e material.

No último estágio, o de integridade x desesperança (velhice), se o envelhecimento ocorre com o sentimento de produtividade e a valorização do que foi vivido, sem arrependimentos e lamentações sobre as oportunidades perdidas ou erros cometidos, haverá integridade e ganhos; de contrário, um sentimento de tempo perdido e a impossibilidade de começar de novo trará tristeza e desespero.

É com base na abordagem de Erikson que se nota a necessidade de procedimentos específicos de aprendizagem do adulto, em relação à criança. O adulto necessita de uma aprendizagem prática e em função do seu nível de enquadramento social no meio em que está inserido. Assim, a motivação do que o adulto necessita para a sua melhor inserção na socieddade constitui a base de partida para a elaboração dos objectivos da sua aula, pelo professor. E o adulto deve compreender que a aprendizagem visa a resolução imediata das suas preocupações.

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Resumo do Tema

A Andragogia tem como finalidade a aprendizagem do adulto, através de princípios específicos tais como: o adulto aprende através da sua experiência; a necessidade de compreender a finalidade da sua aprendizagem; interligar a aprendizagem com a resolução de problemas do seu dia-a-dia; a motivação para aprender é maior, se for interna (necessidade individual); o professor é mediador; o adulto aprende o que quer (auto-direcção). A consideração da Andragogia é fundamental na aprendizagem porque eleva o grau de satisfação na aprendizagem do adulto, baseada na auto-direcção. Existem várias técnicas e procedimentos a usar no processo de ensino-aprendizagem (PEA) com o adulto: o diálogo; a valorização das experiências; o ensino baseado em resolução de problemas concretos. Os conteúdos de aprendizagem são relacionados com o dia-a-dia do adulto.

Reflexão Final 7

Usando a técnica “Grupo de Peritos” e, supondo que deve realizar o ensino a partir de alguns temas (exemplo: i) cálculo da área do triângulo ii) regras de higiene pessoal), explique como é que faria para orientar as aulas com adultos, tendo em conta alguns princípios andragógicos, nomeadamente:

  • Valorização das experiências dos aprendentes;
  • Resolução de problemas;
  • Aplicabilidade da aprendizagem para a vida.

Exercício

  1. Elabore uma síntese reflexiva tendo em conta a contribuição da Andragogia para a prática docente.
  2. Considerando as características dos adultos, formule recomendações adequadas para um professor que pretenda realizar um PEA para alunos desta faixa etária.

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