Módulo 4 | Estratégias Metodológicas na Aprendizagem

Aula 4.6Funções didácticas/etapas da aula

Reflexão Inicial 19

  1. 1. Partindo das aulas que tenha observado de um ou vários professores, relate sobre: i) se nestas aulas conseguiu observar diferentes fases das respectivas aulas; ii) caso sim, de que fases se trata.
  2. 2. Partilhe com os seus colegas a sua experiência relatada em 1, usando a técnica “círculo duplo”.

A rápida reflexão realizada tem o propósito de fazer notar que, de facto, uma aula não é um todo indissociável, mas sim composta de diferentes fases, também designadas por “funções didácticas”.

As funções didácticas são elementos ou partes que constituem a actividade principal do processo de ensino-aprendizagem, o qual se manifesta na coordenação, subordinação, combinação e relação destas, de modo a garantir que o PEA se realize de forma eficaz, isto é, que as várias partes do PEA possam constituir uma unidade de conhecimentos.

A organização das funções didácticas é uma sequência lógica de aquisição e apropriação dos conhecimentos e a sua posterior aplicação na vida prática. Uma aula é realizada com mais de uma função didáctica.

As Funções Didácticas são estudadas separadamente, mas são aplicadas de forma interrelacionada durante uma aula.

Cada etapa ou passo da aula corresponde a uma função didáctica, que é dominante, o que significa que pode haver o envolvimento das restantes, com o fim de, no conjunto, elas assegurarem a eficácia da assimilação da matéria. Em cada função didáctica é proposto o tempo da sua duração, o método dominante, o conjunto de meios e formas de ensino e também as actividades do professor e do aluno. Assim, as funções didácticas encontram-se interligadas e fazem parte integrante de uma aula que compreende um sistema , sobressaindo a ideia de que, na prática docente, elas devem ser usadas de forma integrada, ou seja, numa relação dialéctica entre todas elas. Por esse facto, enquanto num dado momento o professor realiza uma certa função didáctica como sendo a predominante, nela integra elementos doutras funções didácticas.

Esquema 2: Sistema das funções didácticas

A. Introdução/motivação

Esta função didáctica visa a preparação e introdução da matéria, correspondendo especificamente ao momento inicial de preparação para o estudo da matéria nova e compreende actividades interligadas, tais como:

Antes de entrar na sala e iniciar a aula, o professor precisa de se preparar, através de uma planificação sistemática da aula ou conjunto de aulas.

A preparação sistemática de aulas assegura a dosagem da matéria a tempo, o esclarecimento de objectivos a atingir e das actividades que serão realizadas, bem como a preparação dos meios de ensino adequados.

No início da aula, a preparação dos alunos visa criar condições de estudo, mobilização da atenção, para criar uma atitude favorável ao estudo, organização do ambiente, suscitar interesse e ligar a matéria nova à anterior.

A motivação inicial inclui perguntas para averiguar se os conhecimentos anteriores estão efectivamente consolidados e prontos para o conhecimento novo. Aqui o empenho do professor está em estimular o raciocínio dos alunos, instigá-los a emitir próprias opiniões/ideias sobre o que aprenderam e fazê-los ligar os conteúdos às coisas ou eventos do dia-a-dia.

Como foi referido, a introdução do assunto é a ligação da matéria anterior com a matéria nova. Constitui, desta forma, a ligação entre as noções que os alunos já possuem em relação à matéria nova, bem como o estabelecimento de vínculos entre a prática quotidiana e o assunto. É importante que os alunos tenham amplas oportunidades de expressar as ideias que já possuem, pois, crianças têm conhecimentos tácitos, dos quais não são necessariamente conscientes, até que sejam encorajadas a verbalizá-los.

O melhor procedimento para aplicar a introdução é apresentar a matéria como um problema a ser resolvido. Mediante perguntas, troca de ideias/experiências, colocação de possíveis soluções, estabelecimento de relações causa-efeito, os problemas relacionados ao tema vão-se encaminhando para se tornarem também problemas para os alunos na sua vida prática. Com isso, vão sendo apontados os conhecimentos que é necessário dominar e as actividades de aprendizagem correspondentes.

O professor fará, então, a colocação didáctica dos objectivos, uma vez que é o estudo da nova matéria que possibilitará o encontro de soluções. Os objectivos indicam o rumo do trabalho docente e ajudam os alunos a terem certeza dos resultados a atingir.

O aluno é o agente da própria aprendizagem, isso significa que a cada conteúdo que o professor pretenda abordar, há sempre um e outro aluno que tenha um conhecimentomínimo sobre o assunto, e poderá então associar este conhecimento anterior ao novo conhecimento que o professor irá abordar. É neste contexto que se privilegia a troca de experiência dos alunos e o estabelecimento de relações de causa-efeito, porque permitem ao aluno associar o conteúdo novo com os conhecimentos da vida prática e, por sua vez, optimizar esses conhecimentos, ou seja, usar esses novos conhecimentos com mais solidez ao longo das tarefas com que se deparar ao longo da vida.

B. Mediação/assimilação

Depois de suscitada a atenção e a actividade mental dos alunos na etapa anterior (Introdução e Motivação), é o momento dos alunos familiarizarem-se com o conhecimento que irão desenvolver e um dos procedimentos práticos é a apresentação do conteúdo como um problema a ser resolvido, embora nem todos os conteúdos se prestem a isso. Assim, a “Mediação e Assimilação” constituem a etapa ou passo da Aula, onde se realiza a percepção de fenómenos ligados ao tema, a formação de conceitos, o desenvolvimento de capacidades cognitivas de observação, imaginação e raciocínio dos alunos. Pode também ser percebida como sendo o momento da aula, isto é, a função didáctica na qual o mediador dá orientações, explicações necessárias, organiza as actividades dos alunos que os possam conduzir à assimilação activa dos conhecimentos para desenvolver atitudes, convicções, habilidades, hábitos, etc..

É nesta fase em que os alunos devem ter amplas opoprtunidades de se ocupar e empenhar com a matéria da aula, de forma activa e colaborativa. A actividade dos alunos (seja individual, aos pares, ou em grupos) pode ser iniciada ou seguida por uma exposição pelo professor. Desta forma, os alunos não apenas decoram factos, mas sim adquirem e desenvolvem habilidades e competências.

A função do professor é de mediar o processo de construção do conhecimento. Assim, a figura do professor como transmissor de conhecimentos desaparece, para dar lugar à figura de mediador, facilitador ou orientador, concebendo o aluno como o sujeito da sua própria aprendizagem.

C. Domínio/consolidação

Esta etapa consiste na organização, aprimoramento e fixação dos conhecimentos por parte dos alunos, a fim de que estejam disponíveis para orientá-los nas situações concretas de estudo e de vida. Trata-se, também, de uma etapa em que, em paralelo com os conhecimentos e através deles, se aprimora a formação de habilidades e hábitos para a utilização independente e criadora dos conhecimentos. A consolidação de conhecimentos e formação de habilidades e hábitos inclui exercícios, a recapitulação da matéria, o resumo, a aplicação dos conceitos aprendidos para outros contextos, as tarefas de casa e a sistematização. Entretanto, estes dependem do facto de que os alunos tenham compreendido bem a matéria e de que estes sirvam de meios para o desenvolvimento do seu pensamento independente, do seu raciocínio e da sua actividade mental.

Nesta etapa pretende-se conseguir o aprimoramento do novo saber dos alunos, por isso, o professor deve criar condições de retenção e compreensão da matéria, através de exercícios e actividades práticas para solicitar a compreensão.

Não é aconselhável apresentar aos alunos muitos conteúdos, sem que tenham a oportunidade de pôr em prática o que têm aprendido e, muito menos, aproveitar- se do conteúdo aprendido para as aprendizagens posteriores, através de repetição, sistematização e aplicação. Através da repetição o professor pode: reafirmar os conhecimentos e capacidades fundamentais; controlar o nível da situação inicial do aluno; obter uma base para avaliar a cada aluno ou a todo o grupo.

A aplicação é uma etapa fundamental para o processo de ensino-aprendizagem, porque permite que haja aumento e desenvolvimento das capacidades através da resolução de problemas e tarefas em situações analógicas e novas. Esta etapa é a ponte para a prática profissional, visto que desenvolve as capacidades que devem possibilitar ao aluno o poder de aproveitar a teoria e, posteriormente, pôr os seus conhecimentos no trabalho produtivo. Daí a importância da aplicação para realizar a unidade entre a teoria e a prática.

D. Controle/avaliação

Esta etapa permite o acompanhamento de todo o processo de ensino-aprendizagem e forma ao mesmo tempo a conclusão das unidades do ensino. O professor pode dirigir efectivamente o processo de ensino-aprendizagem e conhecer permanentemente o grau das dificuldades dos alunos na compreensão da matéria. Este controle vai consistir, também, em acompanhar o PEA avaliando as actividades do professor e do aluno em função dos objectivos definidos. Através do controlo e avaliação, o professor pode providenciar e, se necessário, rectificar, suplementar ou mesmo reorganizar a aprendizagem.

Pela avaliação é possível saber-se se a aprendizagem está a efectuar-se conforme o previsto ou não e, ao mesmo tempo, permite ao professor certificar-se sobre o que o aluno aprendeu e, então, saber que rumo dar aos trabalhos das novas aulas (se é para repetir, ou prosseguir dependendo da situação vivida no momento quanto ao saber, saber fazer e saber ser-estar dos alunos).

Quadro 17: Exemplo da matriz de passos e organização do ensino em diferentes funções

Funções didácticas

Tempo

Conteúdo/Passo

Método/
Organização/Material

Acompanhamento e avaliação da aprendizagem

Introdução e motivação (Introdução)

5 –10 min.

Apresentação do tema

Apresentação dum problema, fenómeno ou duma questão /

Informação sobre a aula

Toda turma

Demonstração

imagem / texto/ objectos concretos

Observação directa

Conversa com alunos

Tarefas práticas

Apontamentos dos alunos

Mediação e assimilação (Exploração do tema, situações de descoberta)

15 20 min.

Exploração do tema

Exposição do assunto a explorar

Experiências ou actividades práticas

Discussão

Resolução de problemas

Trabalho

  • colectivo
  • em pequenos grupos
  • por pares
  • individual

Domínio e Consolidação (Síntese, integração, aprofunda- mento)

5 10 min.

Recolha de resultados

Apresentação do trabalho (em grupos, por pares, individual)

Discussão

Resolução de exercícios

egisto dos resultados (no quadro / nos cadernos)

Trabalho

  • colectivo
  • em pequenos grupos
  • por pares
  • individual

Controle e avaliação (aplicação, exercício)

5 – 10 min.

Síntese e sistematização do trabalho

Resumo dos assuntos tratados

Avaliação dos resultados de aprendizagem

Registo dos resultados (no quadro / nos cadernos)

Toda a turma

Saiba Mais

Aprofunde seus conhecimentos

Resumo do Tema

As funções didácticas descrevem as etapas de uma aula, em termos das finalidades pedagógicas. Cada etapa do processo de ensino-aprendizagem tem uma função pedagógica e elas estão estreitamente interligadas.

A planificação de aulas, tendo em conta as etapas da aula/funções didácticas, permite ao professor estruturar a aula de forma a garantir que os alunos saibam o que vão aprender, fiquem conscientes sobre o que já sabem em relação ao tema, tenham a oportunidade de explorar novos conceitos, construindo novos conhecimentos e avaliarem as suas aprendizagens.

Reflexão Final 19

  1. Suponha que você seja o professor de uma turma e, , dá- se conta que concluiu a leccionação de uma matéria, mas sem ter realizado as actividades em prol do “Domínio e Consolidação”. Deste modo, que opinião teria, quanto à qualidade de aprendizagem dos seus alunos? Fundamente a sua resposta.
  2. Apresente essa resposta aos seus colegas da turma, de modo a ouvir o comentário deles, usando a técnica “Círculo duplo”.

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